sexta-feira, 6 de março de 2009

Ça Madame

Faz tempo que não escrevo no blog, talvez pq pra mim as coisas realmente importantes devem ser escondidas do grande público. (que público?????)

Bom é claro que não é isso, acontece que traduzir em palavras as coisas importantes faz com que elas percam no mínimo metade do brilho que teriam no maravilhoso mundo das idéias. O texto escrito é só o reflexo, o bolo feito que queimou ou assou de menos, a forma fica na mente. Isso pra quem não tem o maravilhoso dom literário de transformar o banal em obra prima. Eu acabo fazendo o contrário, transformando a vida fantástica em coisa banal.

Bem, a minha vida tem se resumido a ser a menina que enterra talentos, sempre fui. Estou com 23 anos e ainda não fui no Ed Sullivan. Mas antes da promissora carreira de vedete, há uma outra mais espiritual que eu deveria ter escolhido ao invés da melancólica história da revolucionária que eu não sou. Devia ter sido psicóloga (mais uma esperança de revolução, outra).

Sim, porque há algo em mim, na minha natureza curiosa e no meu ar de doida que acabou de fugir do hospício, que faz com que as pessoas confiem em mim pra contar seus maiores segredos, aqueles mais brutais, mais loucos, mais psicodélicos.

Você está feliz e saltitante pela vida e tcharammmm a pessoa te diz que passou anos sem sair de casa, q demorou pra superar, q nao superou totalmente ainda, e seu coração se esmigalha por dentro, as lágrimas explodinho bem atrás das pálpebras e vc inspira pelos olhos esperando q elas sequem sem nem ao menos terem saído.

Vc é forte e deve "chercher partout un grand mouchoir, pour y chacher son désespoir, que fait peine à voir". Não o seu, o dela. Vc não tem o direito de chorar, vc é o muro das lamentações, a rocha, a louca, ou alguma integrante desgarrada dos ursinhos carinhosos, que são tão fofinhos, são do bem, estão aqui para ajudar, se precisar é só chamar.

Mas vc não diz nada, não sabe o que dizer, só sabe tentar mostrar o semblante mais "nossa senhora" que vc consegue, apesar da pessoa ser evangelica. E vai remoendo isso até em casa.

No carro a Mireille Mathieu grita. Com emoção ou sem? Se fosse sem, eu não teria superado suas piafices. Piaf com sua voz cansada de velha aos 20 anos meche tão profundamente na minha alma que eu nem percebo se sua voz é ou não de cristal. Kevin Arnold tocava bem pior que o loirinho, mas com tanto sentimento que a profa de piano via mais futuro nele. E eu choro com vocalizes.

E é isso, eu só sei do minúsculo universo que me envolve, talvez Jung, Freud ou Lacan tivessem dito coisas melhores, mas eu não os estudei e fico nessa angústia de ser o abraço mas nao ter a solução para os problemas alheios.

Um comentário:

Ana & Jessica disse...

Já eu, deixo a minha vida exposta em cada texto meu, quem me conhece, vai encontrar nas entrelinhas a essência de tudo que estou passando no momento.
Talvez esse seja meu pior defeito, não consigo esconder nada de ninguém.

"E se de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente?"