quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre Don Juan de Placi

A jovem violinista caminhava apressada pelos corredores do Teatro Municipal de São Paulo. A pouco tempo ela conseguira a glória que sonhara por toda sua vida, era a mais nova integrante da orquestra principal em todos os sentidos, a mais recente e a mais lolita, no frescor dos seus 23 anos, ou no suor deles por ter tido toda uma vida de adolescente dedicada ao violino.
A pressa com que trocava os passos não vinha de compromissos atrasados mas da ansiedade que lhe sufocava. Saía do último ensaio para a Ópera Carmen, nada podia ser tão perfeito. Sua ópera favorita, a língua? francês... não aquele arranhado que destrói gargantas mas o brando de suas vedettes favoritas que agora, mais clássica, ela entendia de onde vinha. E no papel principal, nenhum gordo bufante tenor das alturas... mas o raro Barítono/Tenor elegante, charmoso, e absolutamente sedutor no seu francês com sotaque espanhol...
Perdida em devaneios, voilà que ele surge sabe-se lá de onde, como se essa história toda não fosse real. Vestido ainda de Don Juan, ele flutua e ela amolece. Todas as partituras voam de suas mãos, só para aprontar-lhe essa falseta, um barulho estrondoso de pastas caindo no assoalho e a vergonha de ser tão desastrada na frente do seu maior ídolo...
Ela se abaixa, rubra pra recolher suas árias e sua alma que lhe pulou da boca... E Placido se abaixa antes, recolhe tudo com esmero e ao se levantar puxa uma rosa do vaso e a entrega para a moça.
Pronto, tudo está feito, depois de contar para todas as amigas, ela pode morrer em paz!
Seria uma bela história se não fosse verdade!

Um comentário:

Unknown disse...

Sou totalmente apaixonada por essa hitoria desde a primeira vez q vc me contou!!!!

"E se de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente?"