terça-feira, 14 de abril de 2009

Quero tudo ter, estrela, flor, estilo!

Trabalho a 2 longas horas de casa, e isso me faz gastar 4 horas diárias de vida só indo e voltando, num chacoalhar inútil que me impede de dormir, de ler e só me resta enjoar das mesmas músicas, todo dia.

Ontem lutava com uma luzinha vagabunda do teto pra ler as últimas páginas do "Leite Derramado", ansiosa por verdades absolutas geminianas que pudessem mudar meu terrível estado de humor. Tudo em vão, as verdades vieram, mas nuas como só elas, e na hora instaurou-se em mim a mais aguda desesperança. Idéias que terminam inconclusas. Não sei por que minha vida é uma sequência de projetos inacabados, mudar de idéia ou perder o pique, que bom se fosse sempre a primeira das opções.

Tudo isso pra ganhar uma miserinha que não posso gastar, lamentei amargamente os 36 reais do livro do Chico pq cada centavo é um centímetro de cimenticola quartzolite pra comprar minha casa. Depois de 9 horas dentro dessa sala infernal, e mais 1 de compensação, vejo que minha energia do dia ja foi pro saco e quando eu chego em casa, meu tempo deveria ser de vocalizes e não de choro e ranger de dentes... Mas não tenho ânimo nem pra entrar na internet.

No percurso irritante do trabalho pra casa, vem a Vivo me encher o saco, que tenho que ser pós-paga, eu aceito idiotamente, a ligação cai e eu me arrependo. Quero saber quanto eu gasto, eu preciso ter o controle sobre o meu dinheiro, sempre juntando, sempre agonizando com dívidas idiotas com as quais eu não precisaria me preocupar de verdade.

Chego em casa e meu pai vem me falar de imposto de renda e sobre a poupança que ele abriu pra mim quando eu ainda era menor de idade. Hoje em dia parece que essa época pertence a um passado tão distante que mal me lembro, e quando lembro é com saudades de quando minha única preocupação era chorar por não decorar mitose e meiose enquanto eu bebia um copão de leite com chocolate com saudades da época que eu ainda mamava no peito e nem me lembro.

O assunto é esse, o imposto de renda achou a poupança e quer cobrar do meu pai, sendo que já passei ela pro meu nome a séculos. Resultado, agora ele sabe exatamente o meu saldo bancário. Quem sabe ele não repete sua frase costumeira com mais propriedade? "Ta precisando pagar o francês? gasta do seu dinheirinho!" Como se eu fosse uma criança que deixou de comer na cantina um mês pra juntar e comprar uma Barbie. Ele não percebe que eu cresci e preciso de uma casa, que não a casa da Barbie, que ele nunca me deu.
E ele ainda achou em princípio, que os 50 reais que ele colocou lá em 1924 renderam tanto que eu ia ficar feliz em ver. Por favor, me digam que é palhaçada!

Enquanto eu penso nas minhas mazelas, tem gente que não mora lá longe e chacoalha no trem da central, ao contrário, tem a pachorra de odiar o metrô parisiense.

Minha cabeça explodindo, a água fervendo nas minhas costas e uma musiquinha me atormentando:

Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Acho que eu fico mesmo diferente
Quando falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
E uso as palavras de um perdedor”


Era só o que eu queria, saber quem sou e quem quero ser, e ir atrás disso realmente. Mas só consegui sair do banho, me encher de tylenol, e cambalear até a calma, já meio tonta.
Sobrevivi a todos os males do século, não bebo, não fumo, não cheiro, não injeto, mas tomo analgésico.

“Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando tchau

Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver

Um comentário:

Unknown disse...

kkkkkkkkkkk ai Raqueooo te amo viu!!!!

"E se de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente?"