domingo, 26 de dezembro de 2010

S - Saramago

Eu não sigo conselhos, não porque não sejam bons, mas porque para mim não servem, só faço aquilo que me dá na veneta. De nada adiantou martelarem a Piaf na minha cabeça, eu só a amei quando tinha que amar, num momento mágico onde a encontrei eu mesma, garimpando os rios tortuosos na internet onde pouco ou nada é ouro.
O mesmo aconteceu com o Saramago. Pouco me importei com o prêmio Nobel de Literatura de 1998, nessa época sei lá eu onde eu estava com 13 anos. Lendo no máximo algum gibi. Ah não, me lembro bem! Na verdade eu estava lendo pela milésima vez "Clara, a companheira de Francisco" e ponderava sobre se seria melhor ser clarissa, com todos os poréns não geminianos como voto de silêncio, clausura etc ou se seria melhor ser apenas Irmã Franciscana de Nossa Senhora das Vitórias com direito a sotaque incompreensível da Ilha da Madeira e tudo mais.

Entrei na faculdade e decidi comprar na banca de jornal "História do Cerco de Lisboa" apenas porque me pareceu que teria algo a ver com as aulas de História Ibérica, nunca abri, revoltada com o fato de a USP ser a única faculdade no mundo com essa cadeira idiota! Porque estudar a metrópole tão obstinadamente??? Já não basta estudá-los nas cadeiras de Brasil Colonial e Brasil Independente? Já não basta estudá-los em História da África? Quem disse que esse fiozinho de península merece tanta atenção? "Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um Imenso Portugal!"

Até que em 2008 o Fernando Meirelles resolveu filmar em inglês o "Ensaio sobre a Cegueira". Que coisa absolutamente despropositada, pensei! Não podia ter tido outra opinião, já que, via de regra, não assisto as  versões cinematográficas dos livros que leio. Decidi, logicamente, comprar o livro. Vamos lá ler o português que não pontua! Decidi porque talvez o vídeo do Saramago conversando com o Fernando depois do filme tenha me cativado. Um escritor que adora o filme do seu livro? Fantástico, né? Claro que um pouquinho de orgulho nacional meio esquisito também me influenciou. Fora toda a cara de gênio velhinho professor que me cativa sempre.

Comprei e li na semana do Natal daquele ano. Angustiadíssima, briguei com a minha mãe, fiquei de mau-humor, que livro incrivelmente bem escrito pode fazer isso com alguém? Só um gênio mesmo, dei o braço a torcer. No fim das contas, não vi o filme.
Engatei outras leituras e fechei "Intermitências da Morte" com a nítida impressão de que acabara de ler o melhor livro da minha vida, impressão que só se confirmaria depois de assistir o documentário de 2010: José e Pilar, só não posso revelar os porques, já que seriam spoilers.  Li depois "Ensaio sobre a Lucidez" e estou lendo agora "A Caverna", ambos que só fizeram confirmar a genialidade do gajo.

A atmosfera fantástica das histórias, a filosofia por detrás delas, a angústia esperançosa em relação ao mundo, os parágrafos desafiadores, a lógica lusitana ironizada ou entranhada, tudo isso tem me encantando de uma maneira deliciosa.

E por fim, um conforto em "José e Pilar", os autógrafos, eles que se danem, não quero cansar-lhe as mãos, obrigá-lo a ser simpático não querendo ser. Eu o amo, compro seus livros, discuto com eles e acho que isso já é o bastante!

E agora sim terminando esse texto, que como todo os outros nesse blog são sentimentais e não críticos, "Pilar, Pilar, Pilar que tandou tardou a chegar, Pilar tem idéias pra vida, Pilar, nos encontramos n'outro sítio!"

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"E se de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente?"